Liderança Espiritual - Da Falsa Piedade aos Estrelismos

LIDERANÇA ESPIRITUAL - DA FALSA PIEDADE AOS ESTRELISMOS

MENEZES, Ederson*


QUAL É A EXPECTATIVA DE LIDERANÇA ESPIRITUAL?

Evidentemente, não é possível referenciar aqui os princípios que,  segundo as Escrituras, regem ou norteiam a expectativa sobre uma liderança espiritual - eles são muitos.

A narrativa bíblica está recheada de histórias, práticas e orientações para líderes.

Entretanto, é possível dizer que uma das mais conhecidas está no texto abaixo indicado:


(Jr 3:15) ​Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência.

 O conhecimento, compreendido como pertencente ao âmbito da revelação divina se transforma em inteligência - uma sabedoria aplicada.

Compreenda aqui também, que conhecimento (revelação), não é necessariamente igual a conteúdo teológico, hermenêutico. Também, não estou dizendo que este deve ser ignorado, mas sobretudo, recebido como possível instrumento.

Mas, o foco é a obtenção graciosa de um conhecimento/revelação que de algum modo torna-se útil e articula a inteligência necessária no exercício da liderança, mais precisamente, no apascentar.

Qual conhecimento? Difícil definir! Parece que este, depende muito mais da sensibilidade do próprio recipiente - o exercício de analisar tudo e reter o que compreender reconhecidamente como bom - sem com isso, ignorar as tendenciosas articulações ou maquinações do próprio coração e experiência do humano.

Existe uma verdade que liberta, que pode ser conhecida e nela permanecida.

Isso faz perguntar sobre qual conhecimento está orientando sua inteligência para apascentar. Qual?

Para alguns, quanto mais teológico, mais espiritual. Para outros, quanto mais eloquentes, mais espiritual. Não vou nem entrar nas distorções de conhecimento, limitações do conhecimento ou ausência dele - nas verdades inverdadeiras.

Entretanto, estas pessoas, líderes, apascentadores precisam ser, primeiro e antes de tudo, como advindos da parte de Deus, e assim também, o conhecimento que portam, precisa ser da parte de Deus.

Seguindo esta prerrogativa, pode-se dizer que quanto mais da parte de Deus for a pessoa e o conhecimento, mais alinhado estará com uma "liderança espiritual" que atende reais expectativas e realidades.

Quem pode dizer, "bater o martelo" acerca de alguém vir da parte de Deus e ainda portar o conhecimento da parte de Deus e que redundará em inteligência para apascentar?

Ah! Claro! Haverá quem logo recupere a imagem dos lobos vestidos em pele de ovelha, dos mercenários - que em algum sentido, época ou condição, todos podem assim serem compreendidos.

Afinal, os muito eloquentes pensam assim dos muito teológicos e assim reciprocamente em outras dualidades.

Por fim, vou dizer o que penso hoje. Você e Deus é que precisam desta clareza em seus corações. Como eu sei que da parte de Deus isto está bem claro - então o desafio maior é seu mesmo!

SOBRE A FALSA PIEDADE E OS ESTRELISMOS

O que me faz refletir sobre esta questão é que recentemente vi a declaração de um ministério em que se arrogava mais espiritual porque não havia "estrelismos" - entendido como sendo exercido por líderes que não querem ocupar um lugar de destaque ou prestígio a frente ou acima do rebanho ou de outros líderes.

Pois bem! Sem negligenciar o prestígio de tal proposta, imagino que se a receita fosse tão fácil, não teríamos tantos problemas com a maldita falsa piedade.

(Gl 2:6) Quanto aos que pareciam influentes — o que eram então não faz diferença para mim; Deus não julga pela aparência — tais homens influentes não me acrescentaram nada.

(2Tm 3:5) tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder. Afaste-se também destes.

(2Co 10:7) Vocês observam apenas a aparência das coisas. Se alguém está convencido de que pertence a Cristo, deveria considerar novamente consigo mesmo que, assim como ele, nós também pertencemos a Cristo.

Sendo assim, chego a conclusão de que "estrelismo" pode ser uma deturpação da liderança espiritual, mas também, pode não ser. E que, aparência de piedade, também pode ser uma deturpação da liderança espiritual, mas também, pode não ser.


Tempos e condições difíceis para definir uma liderança genuinamente espiritual. Isso significa que mesmo que você seja genuinamente um líder espiritual, alguns olharão para você e dirão que não é, enquanto outros, o elogiarão por sua postura.

Mas o que realmente importa, em primeira instância, é o que existe entre você e Deus, só entre você e Deus - tudo transparente.

Claro que, o fruto desta primeira instância irá se manifestar através de sua vida e obra. E, mais uma vez, será admirada e odiada - e, no final, o que realmente vai contar será novamente o que acontece entre você e Deus - dia de profunda consciência e julgamento.

Sendo assim, uma liderança pode viver um estrelismo da parte de Deus, exatamente como houve estrelas que Deus levantou para brilhar em tempos difíceis e tornaram-se grande referência espiritual para multidões.

E poderá haver, piedades falsas, que cultivam estrelismo farisaico, que oprimem o povo com leis caducas, exploração e alienação. 

E, se o vice-versa também é verdadeiro. Então, só resta, voltar-se para Deus, orar, pedir para que Ele envie líderes da parte Dele, com conhecimento e inteligência genuínos para apascentar seu povo - real povo de Deus, pois se existem falsos líderes, também existe, falso povo - os ávidos por estrelas específicas.

Rogai ao Senhor da Seara!

Ederson Menezes
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* Ederson Malheiros Menezes, teólogo, licenciado em sociologia, esp. em docência no ensino superior e EaD, MBA em liderança e coaching na gestão de pessoas, MBA em coaching e analista comportamental, mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social.

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