IGREJA - QUEM É O OLEIRO QUE MOLDA ELA?


IGREJA - QUEM É O OLEIRO QUE MOLDA ELA?

A igreja está nas mãos de quem?

Ederson Menezes*

DEUS DISSE QUE ERA O OLEIRO E NÓS O BARRO

Uma figura de linguagem muito apreciada nas igrejas é a do Oleiro (Deus) trabalhando com o barro (as pessoas). Com certeza, é uma imagem provocativa que sugere muitas aplicações.

Um dos textos mais usados e que evoca esta figura está no profeta Jeremias:

"Ó comunidade de Israel, será que não posso eu agir com vocês como fez o oleiro? ", pergunta o Senhor. "Como barro nas mãos do oleiro, assim são vocês nas minhas mãos, ó comunidade de Israel (Jr. 18.6).

A ideia de ser barro reflete algo moldável, mas também sem valor até que tenha tornado-se algo belo e útil nas mãos do Oleiro.

Ninguém vai questionar as habilidades de Deus como oleiro, mas para isso, o barro precisa estar nas suas mãos.

Aliás, essa ideia de "colocar tudo nas mãos de Deus", menos a vida, parece ter virado moda, ou melhor dizendo, mais um rito místico do evangelicalismo evangélico.

Por vezes, é possível até se assustar com o que as pessoas colocam nas mãos de Deus. Você não acreditaria se eu te contasse.

Evidentemente, o povo perece por falta de conhecimento, pois pedem cada absurdo - é uma ignorância que revela uma religiosidade sentimental sem conhecimento da revelação bíblica.

Mas a pior de todas as realidades é essa, de que tudo o que convém, especialmente, para o humano (os "interésses" de uma política religiosa) está nas mãos do Todo Poderoso, menos o barro.

Saindo do plano individual e passando para o coletivo, não tem como deixar de pensar que esse barro todo - reunido como igreja - também deveria estar na mão de Deus.

Mas, sinceramente, você acha que a igreja está nas mãos de Deus - O OLEIRO?

Pessoalmente, acho que está sobrando mão por aí... e elas não são do Oleiro - a menos que ele tenha se tornado em um Oleiro-Polvo.

QUAIS AS EVIDÊNCIAS DE (NÃO) ESTAR NAS MÃOS DE DEUS?

A arrogância se sobrepõe a humildade. Barro que não admite ser barro, endurece como barro ressecado.

Barro sujo, sem forma, sem utilidade, barro bruto sem valor, destinado a fragmentar-se na insignificância.

Seriam as mãos da religiosidade, da história, dos modismos, dos interesses humanos, da manutenção institucional religiosa, da bolha alienante, da cultura mística, quantas mãos... elas não são do Oleiro.

Dentre as evidências mais visíveis de que o barro não está nas mãos do Oleiro, se recorrermos ao subsídio neotestamentário, está a inaptidão e inutilidade.

Se alguém se purificar dessas coisas, será vaso para honra, santificado, útil para o Senhor e preparado para toda boa obra (2Tm. 2.21).

Não vou entrar na esfera e dimensão da Soberania Divina que faz com que todos permaneçam barro - sejam para honra ou desonra (Rm. 9.21), pois iríamos teologicamente longe do propósito deste texto - mas não esqueça de refletir sobre isso.

Se a "igreja", como barro, está nas mãos do Senhor, então ela é apta e útil, está preparada para toda boa obra - não é isso que o texto diz? Será que ela sabe o que é boa obra? (Deixemos também isso de lado por enquanto...)

Pois bem, é preocupante se ela não está preparada, e nem é útil, pois estaria evidenciando estar sob a modelagem e caprichos de outras mãos que não do Oleiro.

Uma das coisas mais difíceis para o barro é entregar-se nas mãos do Oleiro para tornar-se apto e útil. Precisa reconhecer seu baixo valor e inutilidade, precisa reconhecer a mão do Oleiro. Existe uma relação entre o barro e as mãos - submissão voluntária.

Isso não é para ser ou soar bonito, é uma constatação séria e triste da realidade da igreja "brasileira". Vai ser difícil reconhecer sua inutilidade, vai ser difícil abrir mão de mãos humanas, culturais, religiosas, vai ser difícil...

É triste, especialmente porque a oportunidade do barro tornar-se algo totalmente diferente será destituída, e muitos continuarão como o barro bruto que seca e vira pó - e até o momento que antecede a consciência da realidade do pó, ainda estarão ilusoriamente achando que são algo belo e útil - é muito triste.

Sofro com a miséria da ilusão do barro seco que acha que é um belo e lindo vaso sendo modelado em seus ornamentos finais - ilusão que cega e determina miséria e morte. 

Tem tanta mão, que não reconhecem mais as mãos do Oleiro. Será que pode ser diferente? Os únicos recursos chamam-se misericórdia e graça... passos lentos, conscientes, atentos e cheios de temor... não é castigo, é vida que espera - mas o barro seco não sabe!

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça...
E, quem é realmente barro, certamente deve saber colocar-se no seu lugar... nas mãos do Oleiro.

Ederson Menezes (teólogo, licenciado em sociologia, esp. em educação, MBA em liderança e coaching e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social).

Comentários

Postagens mais visitadas