A benção e a maldição do rito



Apesar do título estar constituído com palavras que normalmente ganham atenção nos debates teológicos, aqui o sentido é simplificado, reduzido ao falar bem e falar mal do rito religioso.

E sobre o rito, normalmente compreendido como um conjunto de cerimônias praticadas em alguma religião, aqui compreende qualquer prática regular, reconhecida como cerimonial ou não dentro da rotina de ministério eclesiástico.

Uma cerimônia compreendida como um rito singular diz respeito a algo que é exercido regularmente nas práticas ministeriais, reconhecido por vezes como algum tipo de ministério específico, desde a saudação na porta de uma instituição religiosa até a homilia do orador no domingo à noite.

Em todas estas práticas, sua regulação evoca bênção e maldição conforme as definições deste texto. Lembrando para os precipitados que bênção/maldição são condicionados ao falar bem/mal, ou ainda, compreender bem ou compreender mal.

É bênção quando no ato histórico se constitui como tal para quem participa, mesmo que em um tempo posterior o mesmo ato seja revisto como maldição. E não pense que isso é impossível, porque não é.

É bênção quando possui sentido, significado genuinamente bom. Porém, torna-se maldição quando vivido como mero protocolo religioso. Rito sem significado é protocolo sem sentido ou maldição. 

E quando se fala em significado, não é no sentido etimológico, mas de significado e sentido para quem do rito participa. De modo que participar de um rito sem consciência é um devaneio. Participar com uma consciência má é maldição e participar com uma boa consciência que evoca compreensão, sentido/significado então é uma bênção.

Deste modo o rito entra em debate, exatamente porque é vivenciado por consciências distintas e por muitas vezes discutidos de igual modo. Para alguns, uma loucura, para outros, algo sem sentido ou significado e ainda, para outros, algo espiritualmente transcendente.

O rito pode perder seu sentido/significado com tempo porque a pessoa que passou por ele não é mais a mesma. Do mesmo modo, o rito pode ampliar seu sentido/significado com o tempo porque igualmente, a pessoa não é mais a mesma. 

Em algum sentido, o rito enquanto definido no corpo doutrinário de uma prática religiosa mantém-se com seu valor inalterável. No entanto, enquanto experiência espiritual do humano, ele oscila.

Bom! Qual é o propósito desta abordagem?

Fazer compreender que a experiência religiosa é mais complexa do que o protocolo, do que o rito em si. Fazer compreender que a experiência não é definida pelo sentido "canônico" que o rito possui, mas também e de forma muito ampla, na experiência contínua do rito iniciado.

Viver uma espiritualidade genuína é algo muito exigente, que deve ser tratado para além do sentido etimológico que categoriza cada rito. Se isso não acontecer, vai sobre apenas as formalidades vazias.

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Ederson Menezes (teólogo, licenciado em sociologia, esp. em educação e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social)

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