O poder do genuíno temor



Temor é um conceito que poderia ser descrito como "dinâmico". Sim! Você pode procurar uma definição no dicionário. É um dos primeiros passos no início da jornada - mas jornada é contínua e não fogo de palha.

Normalmente, demora até que se dê atenção ao temor. A primeira espera parece indicar que o termo não recebe muita atenção, alguns chegam a confundir com o medo, outros com respeito de devoto.

A segunda espera é mais exigente, ela não se contentou com a descrição dos conceitos, já polarizou entre medo e respeito, e agora, sente que a plenitude que satisfaz não apenas a compreensão, mas a vivência do temor, está distante.

Talvez, este seja apenas mais um daqueles conceitos que evoluem com o tempo. Mas... parece que não é apenas uma questão evolutiva (diriam... teologia progressiva!), mas de fato, temor só se compreende com o tempo. E digo, não é qualquer tempo, é tempo de temor.

Viver o temor exige temor. Sim! Não é apenas a busca de um sentido etimológico, é vivência, experiência, subir e descer, cair e levantar, mas nunca esquecer. E quando falo de esquecer, estou simplificando, minimizando o temor a um ato de memória, de um processo cognitivo e digo, que é preciso estar ciente de que, é muito, muito mais do isso.

O genuíno temor não compactua com a maldade, não negocia, não falsifica, não finge, não distorce. O genuíno temor é internamente eruptivo, insaciável, sem desejo do passado limitado porque avança no desejo de "ver a face", o que é essência.

O genuíno temor é impetuoso desde o início, um tanto atravessado aos processos de conformidade da religião e da própria sociedade. Ele não se confunde com a personalidade precipitada, e nem se aproxima das contrições estruturadas, manipuladas.

Quando alguém conhece o temor, dificilmente se apartará dele. No entanto, conhecê-lo é um mistério do universo da fé. 

Não admitir ter temor seria uma ofensa ao religioso, mas vivê-lo está quase no campo da impossibilidade - não ruptura da bolha, não há religare

E para quem conhece o temor, não é difícil reconhecer a ausência ou a distorção dele. E isso, não é uma atitude de soberba, de puritanismo, de elevação espiritual. Antes um ato de tristeza, compaixão pela miséria - dor do Getsêmani.

Não há o que fazer, porque a mera palavra humana não produz temor. Não há como elevar o espírito com temor na força ou qualquer outra iniciativa do humano. Somente o mistério. 

É triste ver o religioso sem temor, é enfadonho ver o ajuntamento dos temerosos. O inimigo se disfarça de "anjo de luz" (demônio que crê e treme) - quanto temor e veneração - quanta ilusão.

O poder genuíno do temor está na essência mais profunda da vida, transcende as metodologias, as liturgias, as orações rezas, as receitas, a máscara da falsa piedade. Piedade! Misericórdia!

O poder do genuíno temor produz temor!

Talvez esta seja a melhor maneira de terminar este texto. Sofrer por quem não não teme é sofredor. Ser crucificado por quem você ama é a via do temor. Cruz, Credo, Que Temor!

Ederson Menezes (palestrante-coach, teólogo, licenciado em sociologia, especialista em educação, MBA em liderança e coaching e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social).

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