Prazeres e Deveres de uma Espiritualidade Não Religiosa


Os diálogos e comentários sobre a espiritualidade revelam a insatisfação como resultado do vínculo religioso.

A insatisfação não anula a necessidade espiritual latente, na verdade é uma forma de dizer que a necessidade não está sendo suprida.

A experiência de que falo não é a ignorante, aquela leviana, superficial. Falo da busca dedicada pela experiência com o sagrado, do atender o anseio íntimo do coração.

A insatisfação destas pessoas revela necessidade humana e faz pensar que, assim como várias outras áreas, apesar das grandes estrutura e recursos, o essencial e básico não está sendo alcançado. Por exemplo, um hospital pode ter muitos recursos, equipamentos, etc e ainda assim, a saúde não estar acessível porque entre a necessidade e o atendimento da necessidade ficou apenas barreiras, burocracias e processos limitantes.

Também nos faz pensar o fato de que, a experiência em um mesmo ambiente/instituição pode variar com o tempo - houve em algum momento histórico uma época em que as necessidades eram supridas. Os fatores que hoje impedem o saciar da mais profunda necessidade humana são diversos, mas quero destacar um em especial.

A mesma pessoa que obteve grandes experiências espirituais em determinada comunidade religiosa no início de sua jornada espiritual, como o tempo, tornou-se insatisfeita. Mas o que exatamente esta insatisfação revela? 

Uma das possíveis respostas faz pensar em algo que Jesus enfrentou em relação ao judaísmo de sua época. Uma religião que estruturou-se e articulou-se de forma institucional, mas que deixou de fazer o básico, religar o humano com Deus.

Na verdade, todo o cânon do Antigo Testamento revela os altos e baixos da experiência religiosa que antecedeu o judaísmo do Novo Testamento, especialmente, o vivido pelos fariseus.

As pessoas estavam insatisfeitas porque queriam Deus e a experiência religiosa da época dificultava esta experiência. Isso nos faz perguntar sobre quais são as dificuldades do encontro do humano com Deus através das propostas espirituais disponíveis pela religião hoje, especialmente no contexto cristão.

Como já referenciado anteriormente, o tempo muda/mudou o sentimento de satisfação para insatisfação. O que aconteceu?

Vou usar paralelamente alguns pensamentos do filósofo Rousseau com alguns textos bíblicos e dar mais alguns passos na temática.

"Quase não temos movimentos maquinais cuja causa não possamos encontrar em nosso coração se soubermos procurar bem" (Rousseau).

Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. (Mt. 15.19)

Jesus foi reconhecido como "Conhecedor dos Corações". E não é difícil de entender isso, porque ele abordou a realidade, falou do problema sem "fazer de conta". E o problema evidentemente começava no coração, dentro das pessoas. E é assim com a insatisfação. 

Mas como uma experiência que antes satisfazia, agora não satisfaz mais?

O tempo mudou a compreensão, a convivência, a dinâmica da relação com o divino, o foco e tantas outras coisas. Mas tem algo que ainda é importante destacar: o tempo de experiência religiosa mudou o prazer em dever.

Exatamente o contrário do que Jesus fez! Jesus encontrou pessoas ansiosas, angustiadas, em pecado, carentes de Deus, sem prazer com aquilo que a religião oferecia (pois ela só oferecia dever-Lei) e então, Jesus fez elas encontrarem prazer em Deus, Jesus tornou-se religião (religação), consolou, confortou, motivou, resgatou o prazer da alma que saciou-se em Deus.

No entanto, o processo hoje ficou na contramão, de forma que muitas pessoas que iniciaram sua jornada com alegria, sentem insatisfação.

"Foi assim que deleites muito suaves se transformaram para mim, com o passar do tempo, em onerosas submissões" (Rousseau).

Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mt. 11.30)
Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los. (Mt. 23.4)

Satisfação de Deus no coração e na vida! 

Isso não vai mudar no ser humano. O que precisa mudar é a negação da realidade, da real e essencial necessidade e da experiência. 

Precisamos que Jesus faça novamente a inversão da experiência, que transforme o fardo dos deveres em fardo leve, jugo suave, prazer e satisfação espiritual. O dever não é excluído, mas a experiência transformadora e viva é muito diferente porque o fardo pesado é transformado em fardo leve.

Há muito para refletir... a realidade é esta! Precisamos fazer o caminho inverso novamente, transformar a insatisfação em satisfação. Se você realmente se importa com o que está proposto aqui, ajude a restaurar o Caminho.

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(Ederson Menezes, teólogo, sociólogo, esp. em educação, MBA em liderança e coaching, mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social)

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