O Pavor de Perder a Salvação



Não faz parte da proposta do Meditação Teológica a ênfase no debate acerca de textos bíblicos polêmicos. Acredito que na internet há espaço de sobra e recursos suficientes para alguém formular sua opinião. 

Mas abri a oportunidade aos membros da comunidade Meditação Teológica acerca de possíveis temáticas para posts - uma forma de conhecer melhor a comunidade. 

Então vou tentar fazer as duas coisas ao mesmo tempo, atender o propósito do Meditação Teológica e fazer uma abordagem do texto polêmico de hebreus capítulo 6.

Alguém já observou que existe cerca de doze (12) possibilidades de abordagem deste texto - cada qual puxa a brasa conforme interesse. Com certeza não vou entrar em todas elas. Fica para os mais ansiosos!

Mas vale lembrar alguns princípios básicos da hermenêutica-bíblica, entre eles, dois que precisam ser destacados:

a) Não se constroem doutrinas bíblicas sobre textos isolados. Uma doutrina possui formulação lógica que se articula com todo o arcabouço bíblico.

b) Textos em que o entendimento é complexo são iluminados por textos em que o entendimento é mais aberto.

Alguns debates desandam já nestes dois princípios básicos. 

Mas partindo para a especificidade do texto de hebreus, primeiramente é importante perguntar a razão deste texto causar tanto "desconforto". Evidentemente, o sentimento predominante é o medo, o medo de "pisar na bola" tão feio que não tenha mais reparo.

Neste anseio estão os que orgulham-se de sua fé, os que estão apavorados porque não sabem se ainda há esperança para eles, e ainda, os que estão tentando descobrir se dá para facilitar as coisas para poder aliviar-se do peso da sacralidade que carrega e quem sabe, até andar um pouco na contramão.

Bom... dentre as leituras realizadas, pareceu-me digno de nota as seguintes observações sobre Hebreus 6:

a) De que a sinonimização entre as palavras cair e pecar coloca todo o ser humano em uma condição de condenação sem volta. Pois evoca uma generalização que aparentemente não é o que o texto quer comunicar. Tal postura iria colocar o sacrifício de Cristo como "inútil".

b) Seguindo os princípios hermenêuticos e a interpretação histórico-gramatical com análise textual, entende-se de forma pronominal que Hebreus apresenta uma tríade em termos de destinatários: crentes, acomodados e nominais. Neste sentido, Hebreus cap. 6 teria de forma intercalada estes destinatários, de forma que partes diferentes do texto se aplicam a diferentes destinatários. Então, a sugestão é uma leitura cautelosa para descobrir o que se aplica a quem. A conclusão seria que, quando o texto faz referência as experiências espirituais, elas não são suficientes para dizer se são crentes ou não crentes, tendo em vista que existe a possibilidade de aplicá-las a ambos os grupos com diferentes compreensões de sua essência. Assim, um nominal poderia ser iluminado, experimentar o dom, participar da atuação do Espírito, provar da Palavra, etc, etc... A ausência de uma referência ao genuíno arrependimento e a fé salvadora indica apenas uma fé nominal.

c) Entretanto, a compreensão deste afastamento da verdade, desta renúncia voluntária associa-se a ideia da apostasia, do afastar-se de Cristo, do próprio pecado contra o Espírito. Isso colocaria a pessoa em uma condição irreconciliável.

Diante do exposto, retomo o início do diálogo lembrando dos princípios hermenêuticos que nos dizem para não construir uma doutrina sobre um único texto e ainda, de que este texto precisa ser iluminado por outros de mais fácil compreensão.

Não vou "cair" na "armadilha" de entrar em um debate calvinista/arminiano. Pois como já referenciei existem muito material aos interessados, além de fugir do propósito do Meditação Teológica.

Mas o que acho importante em toda esta discussão é a posição do humano, especialmente no debate, na curiosidade, na insegurança, na arrogância, na incerteza, na defesa dos próprios interesses. Sinceramente, acredito que há material bíblico suficiente para esclarecer a experiência individual, experiência sincera que não acontece apenas na disputa da razão humana, mas na exposição da vida ao Evangelho e todo conteúdo bíblico, e isso com muita consciência da presença do TODO-PODEROSO. 

Quem tem temor não tem medo!
Quem tem medo, não conhece o amor!
Quem quer graça extra, não reconheceu plenamente a graça genuína!

Boa reflexão,

Ederson M. Menezes (teólogo, sociólogo, esp. em educação, MBA em liderança e coaching e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social).

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