Espiritualidade esquisita



Décadas passaram e fiz um esforço extraordinário para compreender a separação que algumas pessoas fazem em termos de espiritualidade e outras áreas da vida, como os negócios por exemplo. O esforço foi enorme, tão grande quanto o número de casos decepcionantes que conheci deturpando a espiritualidade num pragmatismo fútil.

Chega a dar náuseas aqueles enunciados espirituais dos cultos que estão desencontrados com a vida vivida fora das quatro paredes sacras dos templos religiosos. É no cotidiano e não nos templos que se conhece as pessoas religiosas.

É triste ter que reconhecer que um grande número vive apenas os preceitos institucionalizados e ainda assim, só o extremamente necessário para manter-se pertencente a sabe-se lá o quê.

Fora da "terra santa" vale tudo, inclusive, como era de se esperar, ser pior do que estava antes de ouvir o Evangelho - algo que a própria Escritura Sagrada já havia dito. Eu nunca tinha compreendido de forma tão clara essas náuseas que o Senhor diz sentir em relação as atitudes de algumas pessoas.

É triste, pois a ilusão do mundo religioso institucional virou um tipo de parceiro de jogo, aquele jogo em que se diz: "eu faço de conta que tenho fé e você faz de conta que é realmente o que Jesus instituiu. Reconhece o salvo e isto será um alívio de consciência e pacificação institucional religiosa".

Traição, calote, chantagem, mentira, fofoca, a coisa mais louca que já vi. Digo louca porque jamais alguém assumiria que é mentira por consenso. Falsidade institucional e identitária. Uma proposta dicotômica de existência doentia.

Faça a tentativa de opor-se ao sistema e você verá como crucificações em oculto ainda são práticas celebrativas que estimulam o sacro-ego, ritos que permitem exalar o perfume da ilusão opressora.

A cada dia que passa sinto-me com maior dificuldade de continuar a entender esta "espiritualidade". Mas é compreensível no sentido de reconhecer seu distanciamento de tudo aquilo pelo que Cristo lutou.

Alguns criticam exatamente como estou fazendo aqui, porém, fazem a crítica e vivem da mesma forma, com a mesma pratica de vida dicotomizada - sacro/pagão. Não tem um padrão suficientemente firme para indicar que algo espiritualmente efetivo ocorreu em sua vida. São mais sinceros em reconhecer a farsa, mas cegos quanto a sua própria condição.

Seria isso uma proposta moralista - longe disso! É apenas um convite à sinceridade.

Ederson M. Menezes (teólogo, licenc. em sociologia, espec. em educação e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social)

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