Vida, comunhão e alegria - alguém ainda sabe o que é?



Estamos diante do desafio de ampliar a consciência acerca da vida, das relações e da própria realização humana. E a experiência pessoal de um dos apóstolos de Jesus pode auxiliar ou desafiar nossa compreensão. Ou ainda, desafiar nossa espiritualidade.

João, o apóstolo, vai testemunhar sua experiência pessoal com Jesus. Experiência definida pelos sentidos porque viveu ao lado de Cristo, ouviu, viu e tocou. A conclusão da experiência é o reconhecimento de Jesus como λογου της ζωης - ou seja, a Palavra da Vida (1Jo. 1.1).

A vida não estava revelada. Isso mesmo, João diz que Jesus que é a vida se revelou. Revelou-se como algo que estava oculto que não era conhecido. Então, testemunhar de Jesus é o mesmo que testemunhar da vida oculta. Mas que vida é essa? Pois todos nós conhecemos a vida, então é natural entender que João está se referindo a vida de uma forma diferente. E é isso mesmo, ele está falando da ζωην την αιωνιον - Vida Eterna. E mais uma vez reforça que, esta vida estava oculta e foi manifestada em Jesus. (1Jo. 1.2)

O anúncio, que está baseado nessa experiência pessoal e sensorial com Cristo é anunciado com um propósito: ινα και υμεις κοινωνιαν - "afim de que tenham comunhão conosco". Encontra-se aqui uma das chaves mais importantes da comunhão cristã, o fato dela depender do anúncio e compreensão de quem é Cristo - além da relação pessoal com Ele. A comunhão primeiro se estabelece com Deus e com Cristo, e então, somente depois, uns com os outros por causa de Cristo. Não existe comunhão sem Cristo. (1Jo. 1.3)

O testemunho que agora é registrado, escrito, também tem um objetivo: ινα η χαρα υμων ημων η πεπληρωμενη - " para que nossa alegria seja completa". A alegria como um dos elementos essenciais da comunhão, do compartilhar Cristo - é incompleta sem seu fundamento. (1Jo. 1.4)

Para João, Cristo é uma experiência de vida eterna, comunhão e alegria. A Palavra de Vida não é qualquer testemunho de uma experiência pessoal do apóstolo. É uma nova realidade que revela uma condição de vida antes desconhecida, uma nova realidade que une as pessoas com Deus e uns com os outros. E por fim, uma nova realidade que produz uma alegria completa, ou seja, novamente distinta do que existia enquanto experiência apenas do humano sem a revelação e relação com o divino.

A experiência para hoje está distante quando considerada apenas da perspectiva de leitura do texto. Como qualquer outro ato experimental exige a tentativa de reproduzir e descrever. O primeiro desafio é o de que não temos Jesus Cristo encarnado, mas segundo a tradição cristã Ele é uma experiência acessível no mundo espiritual, o que justifica ser Ele a Vida Eterna. 

Sendo assim, o texto nos convida à experiência com Jesus Cristo, ao testemunho desta experiência e ao compartilhar da influência dela na comunhão genuinamente cristã (que é outra experiência). A experiência é individual e coletiva, não depende de lugar físico, apenas de Cristo e os semelhantes que vivem a mesma realidade espiritual. 

Que vida é essa? Que comunhão é essa? Que alegria é essa? A resposta não é apenas uma descrição ou designação de um dicionário teológico, ou ainda, uma formulação teológica. Trata-se de uma experiência que poderá se efetivar em testemunho pessoal, exatamente com João fez. Mas para encontrar esta resposta você terá que fazer mais do que ler o texto.

É uma pena que muitas comunidades que se dizem cristãs em nossos dias não cultivem mais esta realidade, e pior ainda, que a tenham substituído por mero entretenimento gospel. E tentar abrir os olhos de cegos é algo apenas para Cristo fazer, pois os grandes administradores do mundo eclesiástico estão sempre certos, iludidamente certos. Criaram suas próprias definições e processos da própria religião que chamam cristã, porém sem Cristo.

Ederson Malheiros Menezes (teólogo, sociólogo, especialista em educação e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social) Observação: não autorizado o uso do texto sem consentimento do autor).

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