SEM MOSTARDA FICA COMPLICADO!

SEM MOSTARDA FICA COMPLICADO!

Jesus foi reconhecidamente chamado de Mestre vindo da parte de Deus (Jo 3.2), mas ainda assim, a instabilidade de influência dos “rebanhos” não permitia uma relação estável. Então, na grande multidão e, até mesmo entre os discípulos, esta oscilação de relação era evidente, pois por vezes o amavam e por vezes o odiavam, em determinados momentos estavam seguindo Jesus e em outros o abandonando e traindo.

O próprio Jesus não se confiava nem mesmo para aqueles que tinham crido nele e diz o texto “porque conhecia todos”. Não era necessário que alguém dissesse para Jesus como era o “ser humano”, pois ele sabia acerca de sua natureza vulnerável e facilmente influenciável para o erro. Assim, determinou uma relação dentro de esfera própria, cuja desconfiança era necessária (Jo. 2.23-24).

Jesus era aquela personalidade amável e detestável por aqueles que o cercavam. Aqueles que eram desprezados encontraram abrigo em Jesus, assim o amavam intensamente. Aqueles que viviam “bem” acomodados em sistemas corruptos da vida, o odiavam, pois a vida de Jesus era uma denúncia constante que estava perturbando sua “paz” e “bem-estar”. Essa imagem de pastor acolhedor tinha um pêndulo para outra imagem, a de “perturbador”, e isso, por causa das diferentes realidades da condição humana. E, como Jesus é a Palavra, é o Evangelho, é a Verdade, a mesma realidade se apresenta de geração a geração, de forma que o Evangelho/Jesus continua a ser conforto e perturbação.

Os sistemas humanos, mesmo os religiosos subjugam as pessoas a tal ponto de as tornarem desinteressadas pela verdade. A cegueira instaura-se de forma tão intensa e profunda no ser humano oscilante que em um dia está admirado com o Evangelho e no outro está gritando “crucifica-o”. Talvez a vida de Paulo antes de ser cristão de fato, seja um dos maiores exemplos. Paulo acreditava ser uma pessoa zelosa a tal ponto de perseguir, prender e participar da morte de cristãos. O zelo de sua religião, do sistema religioso do qual fazia parte o havia cegado. Paulo pensava viver a verdade, mas a verdade estava muito longe e sua vida e atitudes estavam exatamente ao contrário do que Deus queria. É terrível perceber que essa história se repete com tanta insistência.

O zelo das tradições não se importa com a verdade a não ser apenas a sua, pertencente ao seu sistema – torna inconcebível qualquer verdade fora do sistema. Os seus valores são os valores dos próprios zelosos e seus sistemas que passam a ser mantidos e defendidos com a vida. As suas crenças e práticas apartam-se da busca da verdade dando lugar ao dogmatismo alienante. Assim as tradições preservam crenças nas quais muitas pessoas acreditam fervorosamente ser a única verdade. E se você pensar diferente do sistema, será perseguido por ele, exatamente como Paulo passou a ser perseguido depois de tornar-se seguidor de Jesus. O primeiro efeito sobre quem pensa diferente é a exclusão, precisa ser apartado, separado, descartado e se o problema persistir, aniquilado – assim pensaram acerca de Jesus, de Paulo e outros. Depois que o apóstolo Paulo posicionou-se ao lado de Jesus Cristo, ao mesmo tempo posicionou-se contra o sistema religioso, o qual passaria a persegui-lo por anos, até vê-lo morto. Todos os artifícios possíveis foram usados para calar essa PERTURBAÇÃO encarnada em Paulo.

Não deve ser difícil pensar que a perturbação parece ser predominante, especialmente ao se considerar que o próprio fundador do Cristianismo foi assim reconhecido. Era um escândalo aquele judeu pendurado em uma cruz, mas também um alívio aos que se sentiram ofendidos por suas perturbações. Agora sim, o problema estava resolvido. O perturbador de suas vidas estava morto. Para uma grande multidão o Mestre vindo da parte de Deus foi finalmente revelado, estava recebendo o que merecia e o que a grande maioria queria, a morte da perturbação. Esse na cruz, não podia ser o Messias, pois não tinha aptidão política. Não podia ser pastor, porque era filho de marceneiro. Não podia ser profeta, porque deturpava as “verdades”. Não podia permanecer vivo, porque estava prejudicando a “vida” de todos. Que catastrófica ironia.

Jesus conhecia todos, não entregou-se a eles, mas por eles. Quanto ao ser humano – uma desastrosa rejeição humana pela verdade divina encarnada. A revelação da maldade instaurada nas profundezas dessa natureza humana rebelde e maquiavélica estava plenamente exposta. Nem mesmo Jesus, o Filho de Deus conseguiu convencê-los, e não violou o direito que tinham de não ser convencidos. Eles poderiam continuar agora com todo seu sistema, do jeito que queriam. Deus não os obrigaria a mudar, eles fariam e fazem sua própria escolha até os dias hoje. A celebração da hipocrisia, a festa dos traidores, com direito a todas as honras pelo zelo religioso, tudo poderia continuar agora, exatamente como desejaram em sua natureza e sistema sem Deus – A VERDADE os estava atrapalhando.

Mas em meio a grande maioria, uma minoria acolheu algo aparentemente contraditório, uma semente, do tamanho de um grão de mostarda que foi plantada (Mt. 13.31). Sem valor para a maioria, mas com poder para frutificar e tornar-se alimento e abrigo em meio a peregrinação e uma nova experiência de vida. A semente que conserva no CAMINHO, que preserva o amor pela VERDADE, e mantém a VIDA. Ela produz ânsia se hipocrisia for consumida, faz adoecer nas politicagens das tradições com zelo sem vida. Ela preserva uma condição de inconformação com a injustiça e maquinações perversas e opressoras.

Todos tem o pleno direito de fazer suas escolhas e colher os seus frutos. Mas sem mostarda fica complicado!


Ederson Malheiros Menezes

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