IGREJA E SEUS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS - PARTE 1
IGREJA
E SEUS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS:
CONFRONTOS
ACERCA DO ESSENCIAL, DO SECUNDÁRIO E DO DESCARTÁVEL
A
religião sempre teve e terá espaço influente na humanidade, por
mais que em época recente alguns chegaram a acreditar na
possibilidade pelos avanços da ciência de “livrar-se” da
religião. Todavia, o que acontece é exatamente o contrário.
Primeiro porque a ciência nunca conseguiu produzir todas as
respostas e segundo porque a religião é mais do que a ciência
conseguiu compreender acerca dela.
No
cristianismo, considerada a religião que mais sofre perseguição no
mundo, se instalam grandes desafios. Desde o cômodo e superficial
vínculo de fé até as atrocidades cometidas contra mártires
históricos. Diversos movimentos no mundo marcam intervenção para a
fé dos cristãos, desde a economia, tecnologia, cultura e de forma
mais contemporânea, grandes debates envolvendo a questão do Estado
e suas determinações formais que se concretizam pelas leis. Na
prática, ainda se observam pelas diversas influências, forçosas
mutações do Evangelho de Jesus Cristo. Adaptações que se fazem
pela coerção sofrida e as quais desconfiguram ainda mais a proposta
do viver genuinamente cristão – de Cristo.
O
apóstolo Paulo lidou em um contexto semelhante com esse problema, da
perversão do Evangelho de Cristo, da tentativa de adaptação do
mesmo a interesses humanos.
(1:6)
Admiro-me de que vocês estejam
abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de
Cristo, para seguirem outro evangelho
(1:7) que, na realidade, não é o
evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando,
querendo perverter o evangelho de Cristo.
(1:8) Mas ainda que nós ou um anjo
do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que
seja amaldiçoado! (Gl.
1.6-8).
Aqui,
faço menção de um primeiro ciclo de confrontos que foram
necessários para se recuperar a visão e prática do Evangelho de
Cristo pela igreja.
Primeiro,
Paulo precisa estimular as pessoas a refletirem sobre a realidade do
coração daqueles que se apresentam como proclamadores da verdade.
Qual seria o real interesse deles, agradar Deus ou aos homens (Gl.
1.10)? Estabelecer este princípio não só para quem anuncia a
verdade, mas para quem busca ela é fundamental. Destituir-se de
interesses próprios para não corromper a ação proclamadora ou a
própria receptividade do Evangelho. Infelizmente, mesmo que pessoas
dedicadas lutem e se esforcem para manter isso, ainda assim haverão
muitas pessoas que não desejarão a verdade de Deus, antes uma
“verdade” qualquer que possa adequar-se ao seu estilo de vida e
aliviar sua consciência pecadora extinguindo as acusações do
Espírito de Deus. Qual é a motivação do seu coração para
anunciar e ouvir a verdade?
Em
segundo lugar, não apenas a convicção interior que se relaciona
com a verdade, mas a origem da verdade precisava ser confrontada.
Assim Paulo, depois de retratar toda a sua experiência descreve a
origem do Evangelho que proclama (Gl. 1.11). Não de origem humana,
mas revelação recebida direta de Jesus Cristo. Não mero arranjo
humano, não mera tradição, mas aquilo que é comunicado por Deus
para o ser humano. Se o coração foi destituído dos interesses
errados e está focado nos interesses certos de agradar a Deus,
também a certificação acerca daquilo que se proclama ou se recebe
faz-se necessária. Infelizmente assim como na época de Paulo,
surgem também em nossos dias muitos “evangelhos”, cada qual
configurado e reconfigurado conforme o gosto do freguês”. Qual é
a origem do Evangelho/evangelho que você segue?
Um
terceiro confronto se dá acerca dos resultados que o Evangelho
produz. A descrição do apóstolo Paulo perpassa sua própria
história de vida, na qual o Evangelho de Jesus primeiro produziu uma
mudança radical (Gl. 1.23), de forma que o perseguidor dos cristãos
agora anunciava a fé que antes procurava destruir. O Evangelho de
Jesus produz mudança de vida, esse é o resultado mais explícito
das Escrituras Sagradas. Consequentemente, por decorrência dos
feitos de Deus, o Evangelho faz com que as pessoas glorifiquem a Deus
por aquilo que Ele está fazendo. Transformação de vida e a prática
que glorifica a Deus são resultados do Evangelho de Jesus.
Qual/quais são os resultados do Evangelho em sua vida?
O
último confronto que gostaria de observar neste primeiro ciclo diz
respeito a tendência leviana que muitos corações possuem de tão
facilmente se submeter a falsos ensinos ou a mescla deles com o
Evangelho. Assim como na época do apóstolo Paulo (Gl. 2.4-6)
pessoas infiltram-se não apenas nas igrejas, mas nos próprios
grupos familiares, de forma presencial e através das novas
tecnologias de comunicação ou ainda, pela avalanche de “informação”
que vive esta geração. Sem as motivações corretas nos corações
e a devida convicção acerca do Evangelho, proliferam lixos que se
mesclam com a verdade do Evangelho, destituindo-o, pervertendo-o e
fazendo com que as pessoas fiquem confusas e vivam uma falsa
espiritualidade. Não faltam pessoas bem-apresentadas, estrelismos
que se avultam como portadores de grande espiritualidade, mas que,
para aqueles que conhecem o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, não
são nada e não acrescentam nada. Acham que com sua “ladainha” e
aparência de piedade conseguirão perverter a fé. Eles conseguem,
mas apenas daqueles que não possuem firmeza no Evangelho, que não
possuem discernimento e clareza da revelação, daqueles que estão
procurando um “evangelho” que se adapte a sua visão de vida. A
quem você está se submetendo? Em que você está colocando sua
vida?
Qual
é a motivação do seu coração para anunciar e ouvir a verdade?
Qual é a origem do Evangelho/evangelho que você segue? Qual/quais
são os resultados do Evangelho em sua vida? A quem você está se
submetendo? E, em que você está colocando sua vida?
É
fato, o autêntico viver cristão não será abalado. Ele se mantém
pela relação graça-fidelidade de um povo histórico chamado
cristão que se relaciona com Jesus Cristo – a igreja de Jesus.
Resta saber se eu sou parte disso, se estou identificado e
conformado pelo Evangelho de Jesus Cristo na minha geração. Você
está?
Ederson
Malheiros Menezes (teólogo e sociólogo)