Natal: (res)significando símbolos não cristãos – coisa de papai noel
"Tudo é permitido", mas nem tudo convém. "Tudo
é permitido", mas nem tudo edifica.
(1Co 10:23)
Não é incomum em uma diversidade de festividades as igrejas se
posicionarem de forma defensiva ou crítica em relação aos símbolos
ou práticas que julgam ferir seus princípios. Uma destas
celebrações, talvez uma das mais controversas, é o natal.
De um lado o presépio que recebe críticas na própria esfera
cristã, mas que recebe melhor consideração quando colocado em
contraste com o famoso papai noel. Há problemas internos do
cristianismo em termos de aceitação de outros símbolos como
pinheiros, guirlandas entre outros adereços natalinos.
De fato, como muitos justificam, estes símbolos não estão na bíblia,
assim como tantas outras coisas que as igrejas fazem. Ninguém vai
negar que a figura do papai noel tem uma razão predominantemente
comercial, assim como ninguém vai afirmar que, pelas afrontas
cristãs, o papai noel vai desaparecer. Ele não vai ser retirado da
cultura e a prova disso é que ano após ano ele ressurge e ocupa
espaço. E por mais que a igreja critique, todo o final de ano ele
ressurge tão forte quanto o ano anterior – o econômico que o
sustenta tem muita força e interesse.
Mas, estamos tratando de símbolos culturais, que sugerem a
possibilidade de (res)significação. Talvez esse possa ser um caminho
mais interessante. Tudo indica que o apóstolo Paulo por vezes optava
por (res)significar algumas coisas em vez de fazer delas ponto de
discórdia. Um altar para um deus desconhecido poderia ser explicado
por Paulo, que o (res)significava tornando o altar do Deus verdadeiro
(At. 17.23).
Quando as pessoas se prestam apenas a criticar símbolos, afirmando
para eles um valor e significado negativo, isso não parece muito
prudente, especialmente tendo em vista que ano após ano o símbolo
retorna. Seria muito melhor (res)significar o símbolo, agregar a ele
algo que aponte para a direção certa.
Tal proposta não pode ser recebida de forma infantil, pois se está
falando de uma grande tarefa que envolve uma transformação da
cultura. Isso também parece estar de acordo com a proposta de ser
sal da terra e luz do mundo, produzir sabor, fazer diferença na
produção de uma cultura em que seus símbolos apontem para Deus e
seus propósitos.
No passado, as culturas tinham pouca influência de outros lugares,
por isso podiam conservar e manter-se a partir de seus traços e
particularidades. Com os processos tecnológicos, especialmente os
que envolvem a comunicação e que fortalecem os processos globais, a
cultura local sofre um tremendo impacto. Assim, alguns símbolos
estabelecidos a nível mundial, como é o caso do papai noel entre
outros símbolos natalinos, sobretudo em uma base econômica, tendem
a ser mantidos e preservados. Tal realidade precisa ser considerada.
A partir disso, sempre haverá duas possibilidades, a do confronto
que se repete ano após ano e que constitui uma consciência penosa
ao cristão, além da fixação de negativos em torno de símbolos
socialmente fortes, ou a proposta de (res)significar os símbolos,
estimular os valores positivos e as referências adequadas para ele –
um papai noel que teme a Deus, que ensina acerca do maior presente –
Jesus. Ao construirmos um papai noel que faz coisas boas por causa de
Deus em sua vida, especialmente como aquele que presenteia as pessoas
com o testemunho do Evangelho de Jesus, temos uma grande oportunidade
missionária numa cultura antes satanizada.
Muitos preferem ressuscitar do passado vínculos à crenças
negativas que ninguém atribui ao símbolo no presente, a menos que
sejam de tal forma referenciados. Se as referências do passado
fossem definir as pessoas hoje, não haveriam cristãos.
Assim, pela associação de coisas ruins com o passado, criam-se
referências negativas que se consolidam ano após ano em experiência
“traumática” para os cristãos e seus filhos que não podem
fugir de uma realidade estampada em todos os lugares. Pois eles
passam a acreditar em algo que ninguém está fazendo referência e
vivem uma constante crise de consciência. Constroem valores
negativos para aquele símbolo e para uma cultura que não
conseguirão desconstruir. Não seria então melhor (res)significá-la?
Não julgo os que preferem pegar o caminho da crítica, mas
pessoalmente não acho que seja o melhor. É permitida a atitude de
criticar e valorizar negativamente algo, mas não me parece que isso
seja mais edificante do que o contrário - “tudo é permitido”,
mas nem tudo edifica.
Contudo, nem todos têm esse conhecimento. Alguns, ainda
habituados com os ídolos, comem esse alimento como se fosse um
sacrifício idólatra; e como a consciência deles é fraca, esta
fica contaminada.
A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus;
não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos.
Contudo, tenham cuidado para que o exercício da liberdade de
vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos.
(1Co 8:7-9)
Ederson Malheiros Menezes (teólogo e sociólogo)