Louvor e os louváveis adoradores (louvadores) do Louvor Eterno



Atualmente, ao se falar de louvor, automaticamente o pensamento remete aos grupos musicais ou mesmo participações solo na liturgia dos cultos. Evidencia-se uma consciência superficial em termos de gratidão e a não distinção do vínculo imediato com a adoração. Vamos tentar ampliar um pouco a compreensão dessa especificidade chamada “louvor”. Isso, sem confundi-la com a adoração. Dessa forma, antecipa-se a compreensão de que o louvor pode ser parte da adoração, porém não deve ser confundido com a mesma, pois adorar é algo mais amplo do que louvar.

Os primórdios do louvor no contexto bíblico fazem referência a experiência do reconhecimento do divino, da gratidão, a iniciativa de adornar algo ou alguém concedendo-lhe destaque. O louvor deveria ter como base a alegria transformando-se em uma oferta (Lv. 19.24). O louvor associado com o sacrifício evocava o elemento da confissão (Lv. 22.29), ou seja, consciência da condição humana diante de Deus e do que Deus possui por expectativa. O louvor existe antes da música, a qual com voz ou apenas instrumental ganharão destaque nas liturgias mais elaboradas nas experiências posteriores, mas também nas experiências pessoais.

O Antigo Testamento tem muito a dizer acerca do louvor que precisa ser considerado. Todavia, o foco dessa reflexão está no Novo Testamento. Sem menosprezo ao riquíssimo conteúdo veterotestamentário, o foco no Novo Testamento se deve a delimitação desse estudo ao período da vida de Cristo e a igreja que surge posteriormente.

Sendo assim, Jesus é com certeza o ponto central para se compreender a questão do louvor. E isso está de certa forma explícito em Hb. 13.15: “Por meio de Jesus, portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome”. A ideia de sacrifício de louvor que tem sua origem no Antigo Testamento é restaurada neste livro bíblico, assim como diversos outros elementos que encontram resposta em Jesus. O louvor precisa agora ser uma realidade através de Jesus, como uma experiência contínua, envolvendo a ideia de oferta/sacrifício, não o de animais, mas dos lábios que professam a presença de Jesus como Senhor em seu coração. Assim, até esse momento, compreende-se que o louvor não é algo que depende da música para se concretizar, mas sim, e principalmente, da experiência de salvação com Jesus Cristo. O louvor, assim como a experiência com Cristo que é uma experiência contínua, precisa evidenciar-se de várias formas, mas nunca sem esta base chamada Jesus Cristo no coração.

Jesus usou o canto para louvar (Mt. 26.30; Mc. 14.26). Aqui entendido como um momento espontâneo. Esta espontaneidade é do coração e não das circunstâncias. Isso pode ser visto no exemplo do apóstolo Paulo que depois de ser açoitado e preso, louva a Deus junto com seu companheiro Silas. Por volta da meia-noite um louvor brota espontaneamente em seus corações e vira testemunho dentro de uma prisão (At. 16.25). Este louvor espontâneo tem uma única base que o sustenta e o motiva: Jesus (Hb. 2.12).

Jesus é a razão maior de louvor. Os anjos louvaram a chegada de Jesus a este mundo (Lc. 2.13) e os pastores igualmente iluminados por essa boa notícia louvaram (Lc. 2.20). Os atos de Jesus produziram louvor na vida de muitas pessoas (Lc. 19.37). E sendo Jesus uma realidade que não mais poderia ser destituída, o louvor consegue igualmente tornar-se algo permanente na vida dos primeiros discípulos (Lc. 24.53). A igreja primitiva louvava Deus de forma que também aquela experiência chamava atenção de outras pessoas (At. 2.47). O poder de Jesus operando através dos discípulos e produzindo experiências pessoais fazia com que pessoas curadas louvassem com grande alegria (At. 3.8). O louvor produzia louvor em outras pessoas (At. 3.9). O que se percebe neste sentido é que o louvor em muitos episódios esta´demarcado por aquilo que Deus faz através de Jesus na história da humanidade, mas também particularmente na vida de cada pessoa que experimenta o poderoso NOME DE JESUS. Constituiu-se assim, um chamado bíblico para louvar (Rm. 15.11; Ap. 19.5), o louvor de quem experimenta a presença e o poder de Jesus.

É importante notar que a expressão de louvor pode muitas vezes estar presente no meio das pessoas sem o devido reconhecimento da mesma, especialmente quando a mesma possui formas diferenciadas das tradicionais. Por isso, Jesus relembrou que Deus produz louvor através dos lábios de crianças e bebês (Mt. 21.16), em que a expressão natural da vida é louvar o Deus da vida. Por isso, o silêncio forçado dos bebês e crianças pode refletir uma insensibilidade espiritual por parte daqueles que os inibem. Evidentemente, outras expressões refletirão louvor, expressões de pessoas que não necessariamente cantarão, mas poderão ser a oportunidade de estimular louvor com louvor na vida uns dos outros (Lc. 18.43).

Como é bom quando o louvor de alguém motiva o louvor em outras pessoas. É o reconhecimento e alegria de que Deus está fazendo algo bom na vida de outra pessoa. Quando alguém consegue louvar junto com outras pessoas que estão louvando, a inveja sede espaço ao reconhecimento da bondade divina. E mesmo que não se louve pelo benefício diretamente recebido, o louvor torna-se um benefício.

A questão do louvor se expande para a relação dos cristãos de forma positiva e negativa, ou seja, alguns tem atitudes louváveis, enquanto outros não podem ser louvados por aquilo que fazem. Aqui, o louvor não está vinculado a adoração, mas ao fato do reconhecimento ou depreciação da condição ou atitude humana. Nesse sentido, Paulo fala do louvor como aprovação daqueles que possuem a marca de Deus no coração (Rm. 2.29), do louvor que recebe aquele que exerce o bem diante das autoridades (Rm. 13.3), do louvor que se receberá de Deus no dia do juízo (1Co. 4.5), do louvor/recomendação que irmãos fiéis possuem das igrejas (2Co. 8.18), dos cristãos que existem para louvor da glória divina (Ef. 1.6, 12 e 14), daquilo que é digno de louvor e deve ocupar a mente (Fp. 4.8). Ainda se considera a fé genuína que produz louvor (1Pe. 1.7) e sobre o louvor/honra pela prática do bem (1Pe. 2.14). Mas Paulo não podia louvar/elogiar os coríntios pela atitude deles diante da forma de celebração da ceia, não era louvável participar sem a devida consideração aos outros (1Co. 11.17, 22). Desta forma, compreende-se que a vida de louvor não é apenas uma expressão em relação a Deus, mas também em relação aos outros. Não é apenas uma expressão vazia, mas uma expressão de vida concreta.

Parece que o ponto mais negativo do louvor apresentado na bíblia é aquele que poderia ser denominado de “autolouvor”. Paulo fala negativamente sobre um orgulho ilustrado na forma do fermento que contamina toda a massa (1Co. 5.6), mas fala também acerca do orgulho positivo que sente acerca de sua postura de renúncia em relação a pregação do Evangelho, reconhecendo sua responsabilidade (1Co. 9.15-16). Do bom orgulho, ou reconhecimento, que deveriam sentir uns pelos outros na relação cristã (2Co. 1.14). Este processo que conduz ao louvor/orgulho em relação aos outros é definido positivamente e negativamente pela essência que o objeto possui, ou seja, o bom orgulho que se deve sentir pelos outros exige que os outros apresentem algo verdadeiro no coração e não só na aparência (2Co. 5.12). A expressão máxima do “autolouvor” encontra sua confrontação nas seguintes palavras: “Se alguém se considera alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. Cada um examine os próprios atos, e então poderá orgulhar-se de si mesmo, sem se comparar com ninguém, pois cada um deverá levar a própria carga.” (Gl. 6.3-5). O “autolouvor” fruto de comparação é algo mediocre e condenável, pois afirma-se no desejo destorcido da superioridade. O incentivo é para reconhecer humildemente a própria condição, de forma autêntica para não se iludir. O “autolouvor” na vida de Paulo só faria sentido se no dia em que fosse encontrar Cristo pessoalmente, conseguisse ver que os frutos de seu ministério tivessem permanecido, caso contrário, tudo teria sido inútil (Fp. 2.16) – o “autolouvor” só se justificaria pela permanência dos frutos, pelo cumprir de sua missão.

É possível perceber nas páginas da bíblia algumas citações em que o louvor recebe uma conotação com maior intensidade e diversidade instrumental, ele é o instrumento para algo. Por exemplo, o louvor pode ser instrumento para glorificar a Deus por sua misericórdia (Rm. 15.9), pode ser o instrumento para que o espírito e o entendimento se expressem (1Co. 14.15), instrumento para o espírito e para o coração louvar Deus (Ef. 5.19), e ainda, instrumento para a alegria se expressar em louvores (Tg. 5.13).

O louvor que se concretiza pela linguagem (não apenas verbal) e pelo reconhecimento das bênçãos em Cristo está expresso vigorosamente. É o louvor daquele que reconhece possuir todas as bênçãos espirituais em Cristo Jesus nas regiões celestiais (Ef. 1.3), os herdeiros da bênção que retribuem sempre em louvor (1Pe. 3.9). Os louváveis louvadores do Louvor Eterno (Ap. 5.12,13; 7.12). Tiago (Tg. 3.10) porém alerta, que apesar de se verificar muitas vezes que da mesma boca se procede bênção e maldição, uma exortação estimula o autêntico e singular louvor “Meus irmãos, não pode ser assim!”. A linguagem/louvor precisa possuir uma fonte exclusiva: a vida de quem está EM CRISTO (Jo. 15).

(Ederson Malheiros Menezes, teólogo e sociólogo, especialista em educação, mestre em divindade e práticas socioculturais e desenvolvimento social – educacaoteologica@hotmail.com).

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