Igreja: complexidades e problemáticas

IGREJA: COMPLEXIDADES E PROBLEMÁTICAS
(O que alguns líderes e pastores disseram sobre a igreja de hoje?)

Ederson Malheiros Menezes*

Uma emergente necessidade surge no interior da igreja no sentido de reconhecer complexidades e problemáticas que a envolvem. Sendo assim, tem-se por objetivo promover a reflexão a partir de alguns apontamentos feitos por pastores e líderes de igrejas.

Bobby Jamieson fundamenta biblicamente o encargo de revitalização da igreja. Ele reconhece no registro bíblico de Corinto (1Coríntios) a igreja contemporânea com diversos problemas dentre eles: heresia, imoralidade, divisão, brigas e influência de aspectos do mundo sobre a igreja. A partir do exemplo de Paulo e Jesus (Apocalipse) incentiva uma atitude diante das igrejas que estão morrendo.

Augustus Nicodemus focaliza a questão da divisão na igreja em Corinto e a relaciona com nosso contexto brasileiro ao dizer que “percebemos que as causas do intenso divisionismo evangélico no Brasil são intrinsecamente corintianas: imaturidade, carnalidade, culto à personalidade, orgulho espiritual, mundanismo ”. Problemas de fragilidade doutrinária e orgulho são os que recebem destaque – líderes e liderados desviados dos propósitos de Deus.

Owen Strachan traz como desafio a necessidade do pastoreio dos indolentes, entendendo que tal realidade constitui-se como fruto histórico do evangelicalismo do final do século XIX e início do século XX, o que produziu pessoas sem comprometimento com a igreja - consumidores da fé. No entanto reconhece que existem muitos desencorajados, com dor e que necessitam de investimento (discipulado).

Thomas K. Ascol também menciona o evangelicalismo com seus frutos enigmáticos que se configura em igrejas irrelevantes pela imoralidade e indiferença. Sua proposta recai sobre a necessidade do pastor diagnosticar exatamente como na prática da medicina, os sintomas e problemas de saúde da igreja, e então, fornecer a receita pela Palavra de Deus. Menciona o fato de que tornar-se membro de uma igreja tornou-se algo quase sem significado e aponta no diagnóstico a incompreensão da doutrina da salvação. Um segundo problema se encontra no culto antropocêntrico de entretenimento e o tratamento está na correção da teologia, especificamente no que se refere a Deus e a adoração. Porém, todos estes problemas são fruto de algo abrangente e simples: problemas na fundamentação espiritual e doutrinária da igreja. Tem-se a partir desta constatação um chamado para fundamentação bíblica da igreja.

Matt Chandler tenta mostrar a importância de ser membro da igreja local partindo da questão: "Membresia de igreja é bíblico?" Ele aborda a questão da autoridade e submissão a partir do texto de Hb. 13.17 em que se vê como autoridade responsável pelo grupo de pessoas que Deus colocou em suas mãos. A segunda questão subsequente passa então a ser a disciplina que é reconhecida como ineficaz pelo fato da falta de comprometimento dos membros - membros inexistentes. Outros fatores vão apoiar a importância da membresia, dentre eles: o registro do número dos discípulos, o reconhecimento do crescimento da igreja, as recomendações que qualificavam pessoas para a membresia e o próprio incentivo a comunhão e exercício dos dons. Ele conclui definindo o ser membro de uma igreja local como uma questão de obediência e não de mera preferência pessoal.

John MacArthur igualmente questiona a iniciativa de fazer o que se faz para agradar as pessoas ao invés de agradar a Deus - é uma acusação de prostituição espiritual. É a iniciativa de produzir uma igreja inclusiva, pluralista e de pensamento aberto que está sendo acusada. Tem-se a partir disto um chamado para a impopularidade da igreja em relação ao mundo, para a autenticidade e firmeza da mensagem do Evangelho diante das filosofias do mundo, que sempre (reconhecido historicamente) estarão em oposição ao Reino de Deus.

Russell Shedd relembra que o fruto de muitos problemas está no fato de não reconhecer a influência da cultura sobre a interpretação bíblica, o que poderia com certeza ser ampliado para tudo o que se refere a igreja – é a influência do mundo (cultura alienada de Deus) sobre a teologia. Assim é possível reconhecer problemáticas como o individualismo, a apreciação por títulos de honra, a religiosidade como fruto da mistura entre mundo e espiritualidade, as lideranças descomprometidas com a Palavra e a necessária pregação bíblica. Shedd encerra sua fala com exortação à uma espiritualidade autêntica embasada no cuidado, humildade e amor – a exemplo de Jesus.

Luis André Bruneto vai explorar os contextos de existência da igreja reconhecendo a fragilidade econômica e social que envolve a América Latina e globalmente o mundo pós-moderno. Ele reconhece a formação de indivíduos movidos pelo prazer imediato, individualistas sem senso crítico, sem estabilidade num mundo de incertezas coletivas. A secularização da religião alimenta o sincretismo religioso. A teologia que poderia ajudar nas respostas e rumos está sempre atrasada e algumas vezes desconectada das realidades sociais. Há uma súplica de renovação para a igreja no Brasil, reconhecida como em estado de avivamento, porém efetivamente falso, porque sem real influência. O apelo de uma segunda reforma na igreja.

Ezequias Amancio Marins alerta sobre a necessidade de um avivamento, mas não baseado em metodologias humanas e sim na consagração de vidas. Um avivamento pelo Espírito de Deus que busca o equilíbrio entre os diversos elementos que envolvem dicotomicamente o debate em torno da igreja e a fé (por exemplo: místico e o racional). Ele encerra seu pensamento reforçando a importância do lugar, conteúdo e prática da pregação na igreja.

Rubens Muzio estimula a esperança mesmo reconhecendo as complexidades e problemáticas que envolvem a igreja como um lugar produtor de influência positivas para o indivíduo e sua família, consequentemente para a sociedade e o mundo. Ele compartilha a partir de uma pesquisa realizada sobre os efeitos positivos na vida de crianças e pessoas adultas que participam da igreja tendo como fruto melhor desenvolvimento social, felicidade no casamento, melhor relacionamento entre pais e filhos, melhores notas na escola, maior comprometimento com a igreja e melhor prática beneficente – quanto mais as pessoas participam da igreja, melhor elas se tornam. Mas ele reconhece o valor/diferença de estar em uma boa igreja.

Como proposto, a revitalização da igreja não deveria ser uma questão de opção, antes uma ação cristã necessária e reconhecida biblicamente. Esta revitalização deve assim caminhar no sentido de tratar do mundanismo (da cultura alienada de Deus), fragilidade doutrinária, indolência, avaliação da ação evangelizadora da igreja, da valorização do ser membro da igreja local, da compreensão acerca da oposição em relação ao mundo, da sua influência social e consciência de identidade, da superação da individualização e sujeitos superficiais, do reconhecimento e importância de frequentar a igreja que mesmo em sua imperfeição terrena abençoa a vida das pessoas, e por fim, principalmente da centralidade e prioridade da glória de Deus em todas as coisas.

Serão necessárias iniciativas (como as que foram propostas) que produzam tratamento efetivo, corrigindo o rumo para garantir um futuro saudável e relevante para o Corpo de Cristo – apenas ser o que é (um exercício para juízo de fato e não apenas de valor).

(Ederson Malheiros Menezes - teólogo, sociólogo (licenciatura), especialista em docência no ensino superior e EaD, mestre em divindade (curso livre) e mestrando em práticas socioculturais e desenvolvimento social)

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